"Por um fio"


Já faz alguns dias que eu terminei de ler o livro "Por um fio" de Drauzio Varella, devido aos últimos acontecimentos: Malu enjoadinha, volta antecipada do passeio, corrida ao pediatra, cuidar dos serviços de casa, etc,etc, eu acabei não conseguindo escrever aqui sobre o livro.

O Dr. Drauzio reuniu várias histórias vividas por ele no exercício de sua profissão e as narra com tamanha sensibilidade que por diversas vezes me emocionei. Há tantos trechos interessantes que fiquei em dúvida de qual citar, espero ter acertado nos escolhidos...


1º* Ele fala de uma senhora que com uma frase o fez perceber qual é a função de um médico. Ela lhe disse: "_Vá com Deus, doutor. Seja abençoada a sua profissão, que Deus criou para aliviar o sofrimento da gente." (grifo meu). Ele diz que nunca havia refletido sobre a finalidade de sua profissão e completa: "Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os médicos onipotentes, que se atribuíam o papel exclusivo de salvadores de vidas, pretensão equivicada da razão de existirmos como profissionais..." Como eu gostaria que todos os médicos em algum momento de suas carreiras percebessem que não são deuses e não estão acima do bem e do mal. Lembrei-me de quando meu pai estava em tratamento no hospital da UFRJ e um médico "deus" oncologista parecia nem nos notar ou nos dirigir a palavra ( ele apenas falava em termos técnicos com seus alunos) e tratava com desdém o quadro de meu pai (que era doente terminal). Chegava ao cúmulo de achar estranho quando nós diziamos que ele não tinha algum sintoma que para ele era esperado. Como o caso era irreversível, por que não dar dignidade??? O que nós esperávamos naquela hora era um alívio para meu pai...e é um pena dizer que ele não recebeu.

2º* Veja esse trecho do Dr. Drauzio: "Custei a aceitar a constatação de que muitos de meus pacientes encontravam novos significados para a existência ao sentí-la esvair-se, a ponto de adquirirem mais sabedoria e viverem mais felizes que antes, mas essa descoberta transformou minha vida pessoal: será que com esforço não consigo aprender a pensar e a agir como eles enquanto tenho saúde?" A grande maioria dos seres humanos só dá valor ao que tem diante da iminência de sua perda. Será que é possível valorizar verdadeiramente (e não apenas superficialmente) a vida enquanto se está com saúde? Qual a importância que você deu hoje ao fato de abrir os olhos, levantar-se, sair andando sem ajuda e ralizar todas as suas atividades? E se lhe dissessem que possivelmente essa foi a derradeira vez? Digo: possivelmente! Somente essa possibilidade já nos faz ver o céu mais azul, sentir o carinho do vento na pele, sorrir ou chorar feito criança, perdoar brigas... e tantas outras coisas que sempre estiveram ao seu alcance, mas nunca decidimos tocá-las.

Para finalizar deixo o pensamento de um rapaz de 25 anos que estava em tratamento de um linfoma (um tipo de câncer), que me parece resumir o que eu quero transmitir para vocês:

"_Sempre fui explosivo: brigava no trânsito, xingava os outros, ficava irritado por qualquer bobagem, já acordava chateado sem saber por quê. Quando entendi que podia morrer, pensei: não tem cabimento desperdiçar o resto da vida. Virei Albert Einstein, o defensor da relatividade: quando alguma coisa me desagrada, procuro avaliar que importância ela tem no universo. Descobri que é possível ser feliz até quando estou triste."

0 comentários:

 
© Template Scrap Suave|desenho Templates e Acessórios| papeis Bel Vidotti